Correio da Manhã: o asco jornalístico

CM Judite

Já aqui falei sobre o efeito fantástico que o Correio da Manhã tem contra os males da prisão de ventre. Em dias de maior aperto, duas ou três páginas são suficientes para regular o trânsito intestinal durante semanas. Desta vez prefiro elogiar  a fantástica cobertura que tem realizado sobre a morte do filho da Judite de Sousa. Realmente, tudo o que precisamos (e queremos) saber tem ficado bem documentado nas últimas edições deste diário. Todos os pivôs deste país ficam assim a saber que os filhos não podem andar em festas onde haja álcool porque pode dar direito a morte no caso de haver piscinas por perto. Parece que estou a ouvir os apresentadores dos telejornais a dizer aos filhos “não te preocupes, meu docinho, se decidires morrer de forma trágica e acidental o pai não vai estar em condições de trabalhar, mas haverá jornais que darão todo o destaque que tu mereces e explorarão a tua morte para faturar o mais que puderem”. Tchi, que exagero! Exagero? Apreciem as capas dos últimos nove dias do referido matutino. NOVE dias sempre a chamar à capa a agonia de uma mãe que perde um filho de 29 anos.

29 de junho – Filho de Judite ligado à máquina

30 de junho – Judite perde o único filho

1 de julho – Amigos temem por Judite

2 de julho – Morte de André investigada

3 de julho – Noite trágica passada a pente fino

4 de julho – 15 polícias na casa da morte

5 de julho – Festa trágica regada a álcool

6 de julho – Queda fatal em cascata de piscina

7 de julho – A dor de Judite: “O meu André era um exemplo”

Se isto não é um portentoso exemplo de excelência jornalística, não sei o que será. Eu, pelo menos, no que me toca, sinto-me informado.

4 thoughts on “Correio da Manhã: o asco jornalístico

  1. Acho extraordinário o denominador comum: roubo, corrupção, morte, mulheres semi-nuas. É, de facto, um exemplo de jornalismo, de informação, de seriedade. Aliás: estas chamadas de capa só dão credibilidade a um jornal que – por estranho e inacreditável que possa parecer – é líder de vendas em Portugal. Diz muito sobre os país. Roubo, corrupção, morte, mulheres semi-nuas. Caramba, para o circo ficar completo, só faltam os cavalos e os anões.
    Porém, não nos espantemos: no Reino Unido – país do “primeiro mundo”, dizem (Hooligans e gajas bêbadas a vomitar os passeios do Algarve à parte) os jormais que mais vendem são os tristemente famosos tabloides.
    Assim vamos indo, felizes e contentes, lamentando a desgraça alheia. Contudo, quando, lamentavelmente, a mesma, a desgraça – só que desta vez não é alheia – nos toca à porta: “Ó da guarda, que estes jornalistas não me deixam em paz! Deixem-me fazer o luto” – o luto que a Judite Sousa não pôde fazer.

    Abençoado jornaleco.

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  2. É realmente triste e vergonhoso. Não compreendo como é que é possível que pessoas (supostamente) bem formadas por diferentes faculdades, com cursos na área da comunicação, se possam sujeitar a eles e a nós a notícias tão fracturantes. O Correio da Manhã nunca foi um ícone de jornal, precisamente por este tipo de notícias tendenciosas, que como disseste, só querem é facturar mais e mais sem olhar a meios. No entanto é triste, sim. Termos que levar com isto, mesmo sem querermos, porque infelizmente existem pessoas como eles que alimentam este tipo de imprensa comprando o jornal – que eu já desisti há muito! – Não dá realmente para confiar neste tipo de pessoas/imprensa. Antes de seriarem as pessoas que lá trabalham pela qualidade académica, deviam fazer o mesmo com os valores éticos e morais. É profundamente injusto, na minha opinião, censurarem uma situação desta natureza, da maneira que o estão a fazer…e pior, sujeitarem a família deste rapaz e o próprio que já não está cá para falar do sucedido, a esta intromissão alheia: vergonhoso.

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