Super-Passos: um, dois, três, salva(va) todos!

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Quando eu era criança, ainda se brincava na rua sem medo de ser vítima de rapto e fazer parte das estatísticas de tráfico de seres humanos. Quando alguém trazia bola, arranjava-se dois calhaus para fazer as balizas e a paródia arrancava ao apito de um árbitro de que ninguém precisava. Quando não havia bola, havia bicicleta. Éramos muitos, às vezes, e praticávamos malandragens como se fôssemos os Hells Angels do pedal. Quando não havia nem bola nem bicicleta, jogava-se às escondidas. E quando se jogava às escondidas normalmente eu acabava em casa, amuado. A malta do bairro gostava de jogar às escondidas com a modalidade “o último salva-todos”. Eu odiava que o último pudesse salvar todos! Era estúpido! Estúpido, estúpido, estúpido! Sobretudo porque tínhamos uma besta chamada Carlitos que era um autêntico ninja. Nove em cada dez vezes ele salvava todos. O infeliz que ficava a contar números de costas para o mundo e no fim gritava “aí vou eu”, nunca se podia esconder por causa do Carlitos que insistia em livrar todos.

O Super-Passos é como o Carlitos: um ninja salva-todos. O Crato quis ir embora porque a colocação de professores não correu lá muito bem, mas o Super-Passos não permitiu. Um, dois, três, salva-todos!

A Paula Teixeira da Cruz, que nem com dois desgraçadinhos-expiatórios se safou, tem mais vidas que um gato. O Super-Passos apanhou-a num voo rasante segundos antes de ela se estatelar no alcatrão e se desafazer em esparguete à bolonhesa. Um, dois, três, salva-todos!

Até o Senhor Irrevogável, Paulo Portas, conseguiu escapar do que toda a gente pensou ser a implosão final. “Vais aonde? Isso é o que tu pensas. Nada permitirei que te aconteça, Paulinho”. O Super-Passos, com a sua velocidade supersónica inverteu o movimento de rotação da Terra e tudo não passou de um “foi sem querer”. Um, dois, três, salva-todos!

É preciso resgatar o Relvas? Pois, esse é um trabalho para o Super-Passos. O conselho nacional do partido é um bom lugar para te abrigares dos inimigos. Um, dois, três, salva-todos!

Caiu, com estrondo, o meteoro dos vistos doirados, mas, uma vez mais, o Super-Passos safou… Ah?! Miguel Macedo apresentou a demissão? E o Super-Passos não o salvou? O que é que aconteceu à ideia de manter todos no barco enquanto isto não for definitivamente ao fundo?

A certa altura, lá no bairro, nós também deixámos de ter um salva-todos. Por alturas dos primeiros pelos púbicos, o Carlitos mudou-se e nunca mais jogámos às escondidas com essa modalidade. Umas vezes ganhava eu, outras vezes ganhava o Pedrinha, outras ganhava o Barbosa. Tinham-se acabado os ninjas e ganhávamos ou perdíamos com base no mérito. O critério que separava a vitória da derrota passou a ser a competência na arte do bem esconder.

 

 

1 thoughts on “Super-Passos: um, dois, três, salva(va) todos!

  1. Tenho a doce desconfiança que o sr primeiro ministro agarra se de unhas e dentes aos amigos porque não saberia o que fazer sem ele…tipo aquele gajo que andava na nossa escola, aquele que não ia ao bar sem perguntar se íamos primeiro…que só fazia gazeta se acompanhado, etc.

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